Sempre que diagnosticamos uma situação-problema – em casa, no trabalho ou no convívio social –, identificamos oportunidades de intervenção que têm potencial para transformar realidades indesejadas. Nesse momento, devemos comemorar, pois o primeiro requisito para a resolução de um problema é conhecê-lo. Porém, se não nos aprofundarmos nas possíveis causas do problema e entendermos claramente as expectativas das partes interessadas, não poderemos priorizar as ações que devem ser tomadas e colocaremos em risco o sucesso do projeto.

Quando saímos de uma reunião em que recebemos a missão de desenvolver um projeto, levamos apenas uma visão geral sobre o objetivo pretendido pela direção ou pelo grupo que apresenta a demanda. Assim, é muito comum acontecer de cada integrante da mesa de reunião ter obtido uma visão particular sobre o resultado a ser atingido ao final do projeto. Por exemplo: se o projeto envolve a organização de uma festa de confraternização dos funcionários, alguns podem imaginar um grande evento, com música ao vivo, convites para familiares e aluguel de um elegante espaço, enquanto outros podem imaginar uma pequena reunião entre colaboradores, a se realizar ao final do expediente, no próprio ambiente de trabalho, com refrigerante e salgadinhos.
Dessa forma, a fim de mitigar essa ameaça, é importante promover o alinhamento das expectativas acerca do projeto. Isto pode ser feito por meio do registro formal, como o Termo de Abertura do Projeto. Nesse documento, é apresentado, de forma clara, o objetivo a ser alcançado, bem como outros fatores que podem influenciar e integrar o esforço a ser empreendido no projeto, trazendo entendimento em relação aos compromissos assumidos pelo gerente.

Após a identificação de um problema e a formalização do projeto, surge um momento crítico que representa a segunda ameaça: uma vontade quase incontrolável de criar soluções imediatas. O fato é que, sem realizar uma reflexão ou qualquer aprofundamento que possibilite a visualização das reais causas dos problemas e realidades a serem transformados, corremos o risco de criar estratégias que:
- Mascaram os efeitos, mas não eliminam as causas do problema;
- Resolvem o problema de forma parcial ou ineficiente, envolvendo esforços desnecessários;
- São inviáveis sob diversos aspectos, como financeiros, legais, etc.
Para exemplificar a ameaça citada, cabe apresentar uma situação hipotética em que se identifica a necessidade de promover o equilíbrio financeiro, tendo em vista uma crescente possibilidade de endividamento. Sem o apropriado aprofundamento para identificar as causas do referido desequilíbrio, podemos envidar esforços no ponto errado. Sem a adequada análise e identificação das reais causas do problema que representam os verdadeiros vilões a serem atacados, a estratégia executada, além de não resolver o problema, ainda gera uma substancial e desnecessária perda de qualidade de vida, que só valeria a pena se fosse temporária e realmente associada a uma melhor situação futura.
Nesse sentido, a criação imediata de soluções, ao tempo que promove uma sensação de bem-estar associada à impressão de estarmos atuando em prol da resolução do problema, pode gerar ilusões e desgastes desnecessários.

A terceira ameaça surge quando nos apaixonamos pela ideia que tivemos para resolver o problema. Isso pode ocorrer por vários motivos, como quando visualizamos qualquer tipo de genialidade na proposta, quando estamos envolvidos com a ideia por algum motivo emocional/subjetivo, ou, ainda, quando já aplicamos a estratégia com sucesso em outras oportunidades. Nesses casos, teremos grande dificuldade de promover os ajustes necessários para que a proposta alcance os objetivos quando os problemas surgirem. É necessário, portanto, colocar o “ego” de lado e começar a ouvir sugestões, analisar os resultados e propor mudanças, mesmo que isso represente o questionamento de verdades que vínhamos defendendo há anos. Afinal, esse é um dos primeiros passos no caminho do desenvolvimento profissional.
Além disso, com base nos argumentos expostos, podemos destacar que, se pudermos escolher o objeto da paixão que nos motivará no desenvolvimento dos nossos projetos, devemos escolher a situação-problema e, mais especificamente, a realidade a ser transformada. Assim, comprometendo-se com o objetivo principal de modificar a situação, teremos maior facilidade para alcançar os resultados, tendo em vista que diferentes soluções podem resolver um mesmo problema. Porém, o problema identificado, até ser solucionado, continuará impedindo a evolução de pessoas e organizações envolvidas.
Autor: Felipe Cruz